Mapas de Afeto
Estes mapas nasceram a partir das entrevistas, algumas em grupo e outras individualmente. A Cidade de Carmo, onde foi feito este exercício, guarda edificações com informações recheadas de emoções sensoriais e ter contato com esta riqueza foi uma experiência extraordinária. Entender na entrevista, a explicação do percurso escolhido, porque fez também o mesmo tomar e se comportar daquela maneira e também o que provocou fazer determinadas escolhas. Registrar também qual é o uso e atividades hoje daquela edificação e qual era na época experenciada pelo morador. Quem as usa atualmente, fazem o que e como usam, e como era na época memorizada. Através destes dados, foi construído destas 20 entrevistas um panorama de quais os espaços de afetos escolhidos e o seu percentual nesta pesquisa.
Escolhi três transcrições para ilustrar o momento único de estar entrevistando alguns habitantes. Foi realizado um total de 20 entrevistas. A primeira entrevista é com a Sra. Denir Gonçalves, de 75 anos, que nasceu e passou tanto sua infância, adolescência e juventude na Fázenda da Glória, lembrou com olhos lacrimejados, passagens com o seu pai, seu esposo falecido e momentos sociais felizes.
Segue abaixo um trecho da entrevista:
“A Fazenda da Glória... Eu tinha uns dez anos, não menos, tirava leite com meu pai no curral, tinha uma capela linda no local..perto da minha casa tinha uma árvore grande de manga que a gente sentava debaixo. Depois viemos pra cidade do Carmo. Agora está tudo abandonado. Tinha forró...tinha folia...me lembro que meu pai me colocava no sofá e tocava sanfona bem. Ele perguntava...Você quer ir? Eu ia com ele a pé..ele tocava.. Com 18 anos numa dessas eu conheci meu marido.”
A segunda entrevista é do Professor e Diretor Alessandro de Oliveira Carmo, diretor do Colégio Estadual Francisco Varella e professor de História. Um trecho onde o mesmo relembra da sua primeira Escola e das Igrejas espaços afetivos importantes na sua história de vida. Segue o trecho a seguir:
“O meu monumento afetivo, que eu tenho paixão, que eu gosto de ler muito, são as duas igrejas que a gente tem aqui no Centro da cidade, que é a Igreja N.Sra. Do Carmo e a Igreja Nossa Senhora dos Passos...Então, eu nasci no Carmo, mas até os nove anos eu não morei aqui. Eu morava num sítio próximo à Santa Rita da Floresta. E aí me lembro da Escola Municipal do Quilombo, ...eu me lembro certinho, uma sala em cada extremo; no meio tinha um patiozinho coberto. Atrás tinha espaço enorme que fazia horta e tudo era muito interessante, muito legalzinho. Telinha de amianto, a escola era uma gracinha...a gente brincava de pique-bandeira tinha um pátio imenso de terra na frente daquela estrada, né?”
Outra entrevista emblemática, é do idoso que atualmente reside no Asilo da Cidade do Carmo, onde ele relembrou do Colégio Estadual Francisco Varella e como também da Coleção de pássaros empalhados que tinha no Colégio. Esta coleção foi doada por um fazendeiro ao Colégio, pássaros oriundos da Região Centro-Oeste. Atualmente uma parte da coleção ainda está exposta no Colégio, com algumas unidades, outras aguardando verba para sua restauração. Segue abaixo a fala do Sr. Marcelo, de 60 anos:
“Eu gostava dos pássaros empalhados...Quando eu voltei lá, o espaço continuava lá. E era assim na hora da entrada. Eu tinha uns nove anos. A garotada gostava, a gente tinha que passar por ali, querendo ou não. Aí eu fui embora pro Rio de Janeiro, em sessenta e nove. Voltei e pedi pra me levarem na Escola. Quando eu cheguei lá, no portal da entrada da escola, tinha uma cristaleira com os pássaros empalhados. Até hoje aquele objeto me encanta muito.”
No primeiro momento ao propor aos entrevistados que fizessem os desenhos, pegar lápis de cor, canetas coloridas e papel, senti que alguns tiveram algum desconforto, mas quando começaram a desenhar, foram tomando forma desenhos lindos cheios de histórias e neste momento, não queriam parar de desenhar. Momento muito mágico e significativo neste Projeto. Nas figuras abaixo são apresentados alguns Mapas:
